Os títulos colocam as mulheres como protagonistas, mas não excluem os homens. Parece contraditório, porém o debate sobre a condição de trabalho e de vida das mulheres, feito por mulheres, não só inclui como conta com a participação masculina. O espaço é delas porque é chegada a hora de elas falarem, em espaços receptivos e seguros, sobre as suas perspectivas. Nem sempre os homens são diretamente convidados. Mas fica cada vez mais claro que precisam assumir a posição de ouvintes e de colaboradores.
Recentemente o Brasil ficou em choque com o caso do médico anestesista que estuprou uma mulher durante a cirurgia do parto. É tão forte, terrível e ofensivo que boa parte das mulheres que eu conheço não consegue falar sobre isso sem encher os olhos de água. E o que isso tem a ver com a 1ª Conferência Internacional de Mulheres em RIG? Tudo. O fato confirma que não há espaço seguro para as mulheres. Quando falamos sobre a condição de trabalho na área de RIG, falamos sobre o acesso das mulheres às posições de liderança, ao direito de planejarem suas próprias carreiras e falamos sobre direito, sobre cidadania, de fato!
Os espaços onde a atividade de RIG acontece - a política e a direção das empresas e das organizações -, ainda são dominantemente masculinos. O debate da conferência é fundamental porque nos provoca a entender os desdobramentos das regras escritas e não escritas que existem nesses espaços e que impactam com mais força a vida das mulheres. Nem sempre os homens são omissos, mas aqueles que entendem que precisam assumir posição precisam aprender a ouvir, mostrar abertura pra entender a perspectiva das mulheres e mostrar disposição para mudar os próprios comportamentos e as regras dos grupos sociais nos quais estamos inseridos.
O avanço das mulheres na atividade de RIG, principalmente em cargos de direção, não pode ser uma luta só das mulheres, ela é responsabilidade de toda a sociedade, e nesse contexto nós, homens, precisamos compreender toda a complexidade que envolve essa questão para que sejam destruídos os obstáculos estruturais.
A conferência é um marco nos debates sobre a área de RIG também por tratar da questão de raça, ao integrar na programação o coletivo Pretas e Pretos em Relgov, e por fazer um diálogo com a realidade internacional da área com relação às barreiras de gênero. Profissionais que atuam nos EUA e na Europa trarão informações e experiências sobre as dificuldades e similaridades entre a atividade no Brasil e em países que já regulamentaram a atividade há décadas.
A conferência é uma oportunidade importante de crescimento profissional e social para todos que entendem que a atividade de RIG avança em qualificação e na compreensão das suas responsabilidades. É um convite para que participemos da evolução da área de RIG. Uma evolução que não começou agora, mas que certamente é irreversível.