Qual a relação entre a Regulamentação da Atividade de RIG e as Eleições Municipais de 2024?

A atividade de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) em ano eleitoral recebe atenção especial tendo em vista o papel fundamental que exerce na interação com os partidos políticos, candidatos e setores estratégicos da sociedade. Uma função basilar é mediar o diálogo entre esses e o poder público, garantindo que interesses legítimos sejam defendidos e representados de forma ética e responsável. 


Para os partidos e candidatos (as), os profissionais de RIG devem ser consultados para orientar e alinhar suas propostas às demandas da sociedade civil organizada, sem comprometer a integridade do processo eleitoral. Esse tipo de interação, quando bem estruturado, pode agregar valor às campanhas, ao promover uma plataforma política que reflita as reais necessidades de diferentes segmentos do eleitorado.


Em 2024, a expectativa - e necessidade - é do aumento de mulheres nos cargos eletivos em disputa. A efetividade dessa presença nos espaços de poder e decisão, no entanto, não se limita apenas à quantidade de candidaturas e possíveis eleitas, mas também à qualidade das relações que essas mulheres estabelecem com setores, instituições e autoridades públicas. 


Cotidianamente enfrentando barreiras adicionais em um ambiente tradicionalmente dominado por homens, as candidatas reconhecem que se beneficiam enormemente da presença de especialistas que entendem as nuances do poder público e que podem orientá-las, sob a perspectiva feminina, além de possibilitar redes de colaboração diversas e inclusivas entre os diferentes segmentos da sociedade. Tal interconexão é crucial para que quando eleitas possam efetivamente implementar suas propostas, tendo profissionais atuando como facilitadores para a construção de diálogos produtivos e parcerias estratégicas. Isso não apenas enriquece o debate político, mas potencializa a criação de políticas públicas assertivas e eficazes que atendam às necessidades de toda a população. 


O resultado é um ciclo virtuoso que beneficia o país como um todo. Por isso, a presença de profissionais qualificadas assegura que as interações sejam conduzidas de maneira ética, respeitando os princípios da legalidade e da moralidade. Isso é especialmente relevante em um cenário onde a desconfiança em relação às instituições é crescente e os desvios de finalidade também. 


Nesse contexto, a regulamentação da atividade de relações institucionais e governamentais (RIG) emerge como uma ferramenta essencial para fortalecer esses laços e garantir um ambiente político mais profissional, inclusivo e responsável. Isso porque traz consigo a padronização de práticas e a formação de profissionais capacitados para atuar nas interações entre os setores público e privado, terceiro setor e a sociedade como um todo. Essa profissionalização é vital, especialmente em um momento em que as mulheres estão buscando ser inseridas no contexto político, independentemente de ocupar ou não cargos eletivos. Visto que, com profissionais de RIG enquanto cientistas políticos, jornalistas, assessores parlamentares, consultores políticos, profissionais do direito com experiências em campanhas eleitorais, entre tantas outras atuações, as candidatas podem desenvolver estratégias mais eficazes de comunicação e negociação, o que resulta em uma melhor articulação com as autoridades públicas e com seus próprios eleitores. 


À medida que nos aproximamos das eleições municipais deste ano, a importância da regulamentação se torna cada vez mais evidente. Diante disso, entendemos a janela de oportunidade para aprovação do PL nº 2914/2022, em tramitação no Senado Federal, sob a relatoria do Senador Izalci Lucas (PL/DF); visto que, a regulamentação da atividade não apenas eleva o padrão de atuação, mas contribui para a promoção de práticas integras e transparentes no exercício da defesa de interesses. Uma estrutura profissional qualificada pode servir como um escudo contra condutas impróprias e uma ferramenta a mais na luta por uma governança mais responsável, criando soluções que possam mitigar os crimes de assédio moral e sexual, bem como a violência política de gênero, protegendo a integridade das instituições e fortalecendo a imagem e atuação das mulheres no ambiente político.



Noemi Araujo

Cientista Política, Mestra em Poder Legislativo pela Câmara dos Deputados

Diretora e Coordenadora do Comitê Mulher da Abrig.


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